sexta-feira, 6 de junho de 2014

LEITURA DE IMAGENS - Vamos aprender a exercitar a análise de uma obra de arte!

Ficheiro:Van Eyck - Arnolfini Portrait.jpg

O Casamento dos Arnolfini ou Retrato dos Arnolfini ou o Casal Arnolfini

O quadro  encontra-se na National Gallery, em Londres. Mede 82 x 59,5 cm. O retrato é  pintado a óleo sobre tábua de carvalho e data de 1434.
Uma análise superficial da obra, mostra a união de Giovanni di Nicolao Arnolfini e Giovanna Cenami, ambos italianos abastados que se estabeleceram na cidade de Bruges. Deduz-se que o quadro havia sido encomendado pelo casal Arnolfini para representar o seu casamento, algo comum na época. 

Existem diferentes teorias sobre o significado e interpretação deste quadro. Geralmente a obra é interpretada como sendo uma certidão de uma cerimónia de casamento. Arnolfini e a sua esposa casam-se e o quadro retrata o momento em que o casamento é celebrado. O espelho convexo na parede de trás do quarto reflecte, para além de Arnolfini e da sua esposa, mais duas figuras na porta. Estão assim presentes duas testemunhas para legalizar o casamento. Uma delas é provavelmente o próprio pintor que coloca a sua assinatura acima do espelho: "Johannes van Eyck fuit hic 1434" (Jan van Eyck esteve aqui em 1434).  A moldura do espelho contém imagens da Paixão de Jesus Cristo e representa a promessa de Deus de salvar as pessoas no espelho redondo. O próprio espelho simboliza Maria e refere-se à Imaculada Conceição e à pureza da Virgem Santa, representando além disso o Olho de Deus, que, desta maneira, é testemunha na cerimónia.

O cão pode ser visto como símbolo da fidelidade; estabilidade doméstica e tranquilidade (‘Fido’, o nome usual em latim para os cães, significa ‘confiança’).

O castiçal de sete braços contém apenas uma vela, provavelmente a vela que a noiva ofereceu ao noivo segundo a tradição flamenga. Uma vela acesa à luz do dia simboliza por norma o sempre presente Espírito Santo ou o Olho de Deus.

As laranjas na mesa junto à janela referem-se provavelmente à fertilidade e simbolizam a pureza e inocência no Jardim do Éden antes da queda. Atrás do casal, as cortinas da cama conjugal estão abertas, sendo uma representação da visita e bênção da Santíssima Trindade.

Nem Arnolfini, nem a esposa usam sapatos. Este facto demonstra o respeito e consciência da santidade e beatitude do matrimónio. Os tamancos em primeiro plano são provavelmente um sinal de respeito pela cerimónia de casamento e apontam, além disso, para o facto de este acontecimento ter lugar em terra santa. Tradicionalmente os maridos ofereciam tamancos às suas esposas.

As cortinas vermelhas da cama referem-se ao acto físico do amor, à união carnal do casal. A cor verde do vestido da mulher simboliza a esperança (talvez a esperança de ficar mãe). A sua touca branca simboliza a pureza.

Outra teoria sobre este quadro interpreta o retrato no contexto económico e histórico da cidade de Bruges no século XV. No início do referido século, Bruges era o principal ponto  de comércio na Europa do norte, atraindo numerosos diplomatas, comerciantes e mercadores estrangeiros. Arnolfini, descendente de uma família italiana de mercadores muito importante de Lucca, viveu toda a sua vida em Bruges, onde negociava em tecidos preciosos, objectos e tapetes. O quadro representa o nascimento de uma burguesia rica de comerciantes internacionais. Vemos a senhora Arnolfini vestida segundo a última moda. O seu vestido, feito dos melhores e mais caros tecidos, até foi debruado com arminho. Na janela, há uma laranja descuidada, sinal de riqueza, já que apenas a elite rica podia permitir-se esses frutos. O quadro não mostra propriamente o que Arnolfini e a sua esposa possuem, mas antes o que querem mostrar a sua riqueza e o seu bem-estar. 
Estudos em infra-vermelho mostram a quantidade de retoques que Van Eyck fez no decorrer da obra para deixar a mão de Gioavanni perfeita. É um quadro reflexo dessa época, símbolo do perfeccionismo na pintura e, acima de tudo, único. A obra, considerada muito inovadora para a época em que foi concebida, exibe diversos conceitos novos relativamente às perspectivas e à acentuação dos segundos planos. Destaca-se o espelho no fundo da composição, em que toda cena aparece invertida, tal como a imagem do próprio artista.

Fontes: Jan Van Eyck. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.